segunda-feira, 25 de junho de 2012

Jack Kerouac




Trechos de "Os subterrâneos"


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- pois também a grandeza morre – ah e quem disse que eu sou grande – e se fosse mesmo um grande escritor, um Shakespeare secreto dos travesseiros noturnos? ou isso mesmo – um poema de Baudelaire não vale o sofrimento dele – o sofrimento dele – (Foi Mardou que acabou me dizendo, “Eu preferia o homem feliz aos poemas tristes que ele deixou” com o qual estou de acordo e sou Baudelaire, e amo minha amante negra eu também me encostei em seu ventre e ouvi os ruídos subterrâneos) – mas eu devia ter entendido quando ouvi sua primeira proclamação de independência que era sincera a repulsa dela a qualquer envolvimento, em vez de me jogar a ela como se e porque eu queria mesmo me machucar e me “lacerar’ – mais uma laceração e vão ter que preparar o caixão para mim rapaz – pois a morte já dobra suas grandes asas sobre minha janela, eu a vejo na frouxidão das camisas que jamais usarei, novas-velhas, na-moda-fora-de-moda, gravatas ofídicas que nem uso mais, cobertores novos para leitos pacíficos outonados transformados em macas estrebuchantes inquietas sobre o mar suicida – perda – ódio – paranóia – era o rostinho dela que eu queria penetrar, e o fiz –

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nenhuma menina jamais me havia comovido com uma história de sofrimento espiritual a alma dela transparecendo tão lindamente como um anjo perambulando pelo inferno e o inferno eram as mesmas ruas que eu perambulava procurando, procurando alguém como ela sem nunca imaginar a escuridão e o mistério e eventualidade do nosso encontro na eternidade, a imensidão do rosto dela agora como um cartaz pregado numa cerca de madeira nos terrenos baldios de lixos fumegantes em manhãs de sábado sem escola, direto, lindo, louco, na chuva. – Nos abraçamos, apertamos com força – agora era como amor, fiquei maravilhado – transamos na sala, felizes, nas cadeiras, na cama, dormimos enrodilhados, satisfeitos – eu ia mostrar mais sexualidade a ela –

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“Amor você que sabe”, é o que ela está dizendo, “quantas vezes vai me ver e essas coisas- mas eu quero ser independente como eu já disse.”
E eu vou para casa tendo perdido o amor dela.
E escrevo esse livro.