Trechos de "Os subterrâneos"
[...]
- pois também a grandeza morre – ah e quem disse que eu sou
grande – e se fosse mesmo um grande escritor, um Shakespeare secreto dos
travesseiros noturnos? ou isso mesmo – um poema de Baudelaire não vale o
sofrimento dele – o sofrimento dele – (Foi Mardou que acabou me dizendo, “Eu
preferia o homem feliz aos poemas tristes que ele deixou” com o qual estou de
acordo e sou Baudelaire, e amo minha amante negra eu também me encostei em seu
ventre e ouvi os ruídos subterrâneos) – mas eu devia ter entendido quando ouvi
sua primeira proclamação de independência que era sincera a repulsa dela a
qualquer envolvimento, em vez de me jogar a ela como se e porque eu queria
mesmo me machucar e me “lacerar’ – mais uma laceração e vão ter que preparar o
caixão para mim rapaz – pois a morte já dobra suas grandes asas sobre minha
janela, eu a vejo na frouxidão das camisas que jamais usarei, novas-velhas,
na-moda-fora-de-moda, gravatas ofídicas que nem uso mais, cobertores novos para
leitos pacíficos outonados transformados em macas estrebuchantes inquietas
sobre o mar suicida – perda – ódio – paranóia – era o rostinho dela que eu
queria penetrar, e o fiz –
[...]
nenhuma menina jamais me havia comovido com uma história de
sofrimento espiritual a alma dela transparecendo tão lindamente como um anjo
perambulando pelo inferno e o inferno eram as mesmas ruas que eu perambulava
procurando, procurando alguém como ela sem nunca imaginar a escuridão e o
mistério e eventualidade do nosso encontro na eternidade, a imensidão do rosto
dela agora como um cartaz pregado numa cerca de madeira nos terrenos baldios de
lixos fumegantes em manhãs de sábado sem escola, direto, lindo, louco, na
chuva. – Nos abraçamos, apertamos com força – agora era como amor, fiquei
maravilhado – transamos na sala, felizes, nas cadeiras, na cama, dormimos
enrodilhados, satisfeitos – eu ia mostrar mais sexualidade a ela –
[...]
“Amor você que sabe”, é o que ela está dizendo, “quantas
vezes vai me ver e essas coisas- mas eu quero ser independente como eu já
disse.”
E eu vou para casa tendo perdido o amor dela.
E escrevo esse livro.