quarta-feira, 4 de julho de 2012

Erica Jong

Trecho de "Medo de voar"


“Não existe meio de sair da mente?”, indaga Sylvia Plath em um de seus últimos poemas desesperados. Se eu estava aprisionada, era por meus próprios receios. Motivando tudo aquilo existia o terror de estar sozinha. Ás vezes parecia que me prestava fazer qualquer acordo, tolerar qualquer ignomínia, ficar com qualquer homem, só para não ficar sozinha. Mas por quê? O que era tão terrível em estar só? Procure pensar nos motivos, dizia a mim mesma. Procure:
Eu: - Por que é tão terrível estar só?
Eu: - Porque se nenhum homem me ama, não tenho identidade.
Eu: - Mas isso, evidentemente, não é verdade. Você escreve, as pessoas lêem seu trabalho e ele tem importância para elas. Você leciona, seus estudantes precisam de você e se importam com você. Você tem amigos que a amam. Até seus pais e irmãs a amam – a seu modo singular.
Eu: - Nada disso diminui minha solidão um só milímetro. Não tenho homem. Não tenho filho.
Eu: - Mas você sabe que os filhos não são antídoto para a solidão.
Eu: - Sei.
Eu: - E você sabe que os filhos só pertencem temporariamente aos pais.
Eu: - Sei.
Eu: - E você sabe que os homens e as mulheres jamais poderão possuir-se, uns aos outros, por completo.
Eu: - Sei.
Eu: - E você sabe que detestaria ter um homem que a possuísse por completo e usasse o seu espaço mínimo de respirar...
Eu: -  Sei... mas anseio desesperadamente por isso.
Eu: - Mas se você o conseguisse, ia sentir se presa.
Eu: - Sei.
Eu: - Você quer coisas contraditórias.
Eu: - Sei.
Eu: - Você quer liberdade e quer também proximidade.
Eu: - Sei.
Eu: - Pouquíssimas pessoas encontram isso.
Eu: - Sei.
Eu: - Por que esperar ser feliz quando a maioria das pessoas não é?
Eu: - Não sei. Sei, apenas, que se parar de contar com o amor, parar de esperá-lo, parar de procurá-lo, minha vida vai ficar tão vazia quanto um seio canceroso, depois da extração cirúrgica. Eu me nutro dessa expectativa. Alimento-me dela. Ela me mantém viva.

[...]

segunda-feira, 2 de julho de 2012