Se você
atravessar um prego no dedo dói, se um caminhão passar em cima de você dói, se
você cair e bater com a cara no chão também dói. Considerando todos esses fatos
podemos traçar uma linha de causalidade. O dedo dói por causa do prego, logo é
necessário tratar do ferimento e evitar os perigos relacionados a esse tipo de
dor.
Quando se
trata de uma dor que não pode ser vista é diferente.
Explique-se,
se puder: “É que dói, onde? Não sei, é bem aqui, mas aqui onde eu não sei
explicar, mas eu sinto.”
E para dor
escondida há tantos que querem explicar... nobres companheiros da literatura, é
claro que eles também sangraram. Sei bem a dor de Kerouac em “Os subterrâneos” (eu queria mesmo me machucar e me “lacerar’ – mais
uma laceração e vão ter que preparar o caixão para mim rapaz), e
também o sofrimento de Erica Jong em “Medo de voar” e tantos outros que
choraram naquela mesma esquina que eu e tentaram achar explicação. Então eu penso em coisas, penso em teorias, reflito sobre romances para entender meu próprio
sofrimento com aquele ferro enferrujado machucando em algum lugar.
E sim, eu preciso de uma explicação para dor. Se os fatores envolvidos nessa 'dor' tiverem uma ordem lógica posso romper com isso, mas aí esqueço que 'essas coisas' acontecem com uma lógica um tanto distante das 'outras coisas' observáveis...
E então falo com qualquer pessoa, pode ser aquela que leu Dostoiévski, Schopenhauer e tudo mais, "Charles Bukowski me entenderia". Clarice
Lispector até, ou melhor frases de auto-ajuda da Clarice Lispector. Ou melhor
ainda, um livro de auto-ajuda. Filosofia talvez, metafísica, psicologia... Skinner não me entenderia. Freud talvez.