segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dor


Se você atravessar um prego no dedo dói, se um caminhão passar em cima de você dói, se você cair e bater com a cara no chão também dói. Considerando todos esses fatos podemos traçar uma linha de causalidade. O dedo dói por causa do prego, logo é necessário tratar do ferimento e evitar os perigos relacionados a esse tipo de dor.
Quando se trata de uma dor que não pode ser vista é diferente.
Explique-se, se puder: “É que dói, onde? Não sei, é bem aqui, mas aqui onde eu não sei explicar, mas eu sinto.”
E para dor escondida há tantos que querem explicar... nobres companheiros da literatura, é claro que eles também sangraram. Sei bem a dor de Kerouac em “Os subterrâneos” (eu queria mesmo me machucar e me “lacerar’ – mais uma laceração e vão ter que preparar o caixão para mim rapaz), e também o sofrimento de Erica Jong em “Medo de voar” e tantos outros que choraram naquela mesma esquina que eu e tentaram achar explicação. Então eu penso em coisas, penso em teorias, reflito sobre romances para entender meu próprio sofrimento com aquele ferro enferrujado machucando em algum lugar. 
E sim, eu preciso de uma explicação para dor. Se os fatores envolvidos nessa 'dor' tiverem uma ordem lógica posso romper com isso, mas aí esqueço que 'essas coisas' acontecem com uma lógica um tanto distante das 'outras coisas' observáveis...
E então falo com qualquer pessoa, pode ser aquela que leu Dostoiévski, Schopenhauer e tudo mais, "Charles Bukowski me entenderia". Clarice Lispector até, ou melhor frases de auto-ajuda da Clarice Lispector. Ou melhor ainda, um livro de auto-ajuda. Filosofia talvez, metafísica, psicologia... Skinner não me entenderia. Freud talvez.


sábado, 24 de novembro de 2012

Silêncio


Eu aprecio o silêncio
Gosto de olhares que se cruzam sem palavras
Eu amo a serenidade
A densidade da brisa é tão bonita
A presença sem barulho
Eu sinto tanto
Fico quieta
Só o meu coração canta
O som dele é mais bonito e alto
Tempestades, furacões, vulcões em erupção... tudo isso aconteceu
E tudo o que eu disse foi: “Fica!”
Sem que uma palavra fosse dita

Dizem que a coragem é vermelha
Discordo, eu a descobri
Ela tem a cor da vontade de ir
Pulsação, circulação e ritmo
A mesma cor do bater de asas do beija flor
Não entendeu o que eu disse?
Gosto de você e farei com que você fique

Mas sem pronunciar uma palavra.

sábado, 10 de novembro de 2012

F. Scott Fitzgerald

Ludwik de Laveaux, Parisian Street at Night
Gatsby acreditou na luz verde, no orgiástico futuro que, ano após ano, se afastava de nós. Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã...
E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado.
[O Grande Gatsby]

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Fabio Herrmann


Ora, a posse integral de si próprio é impossível – por sorte, posto que, satisfeito, cada homem seria o último da Terra, sem descendência, nem haveria obras ou civilização. Somos muito dependentes do meio e da sociedade e, além disso, não nos conseguimos conhecer diretamente: só no confronto com os outros é que sabemos de nós. Conformar-se com isso? Bem, não há outro jeito. Porém, ainda que aceitando a indispensável abertura para o outro, resta sempre um sentimento de perda, básico e inevitável, como uma saudade de si mesmo, embora referente a um estado de posse absoluta que nunca houve ou haverá. Será irracional talvez, mas os homens são assim, nostálgicos precisamente do que tão-somente imaginaram haver possuído.
[Trecho de "O que é psicanálise"]