quarta-feira, 22 de abril de 2015

SP

Introdução

"Vivo um paradoxo terrível desde tenra idade. Gosto de contar e quantificar as coisas, e atribuir espaço a tudo, até mesmo aos sentimentos. Imagino um gráfico de pizza para ter uma dimensão do que cada coisa ocupa, mas por sorte sou péssima em contas. Isto, no meu caso me dá um pouco mais de leveza.
Os sentimentos afetuosos não se permitem serem ponderados. Não há planejamento, não aceitam ser contados e sempre querem ser exagerados. É como segurar o riso.
Eu tenho poucas certezas, mas eu gosto de belezas, quando me vem um sentimento sublime eu fico extasiada. Os fatos tornaram-se sinuosos demais e eu estou fixada.
Eu estou hipnotizada numa sequência de momentos, quero que tudo se repita novamente.
Eu tenho poucas certezas, uma delas é que eu quero que isso dure.
Contemplo fotos de coisas que ainda não aconteceram, as que eu tenho não me bastam, e eu quero voltar até São Paulo."

Um dos questionamentos que eu tenho feito desde criança, é sobre o melhor lugar para se morar: Uma cidade grande ou uma cidade pequena? Tal indagação tem sido mais persistente na idade adulta. Em Campo Grande enquanto o avião subia eu percebi que toda cidade era pequena vista de cima. Uma cidade é um labirinto, mas mesmo olhando de cima, não dá para achar saída, sempre leva a outros labirintos (cidades).
Chegamos em São Paulo, mas ainda não era a São Paulo que tanto procurávamos de fato. Chegamos à Guarulhos. No aeroporto precisávamos fazer uma importante ligação ao hostel, achamos orelhão, mas não tínhamos um cartão (quem tem?). Fomos até uma loja para comprar e voltamos para fazer a ligação. Descobrimos que nosso quarto está ocupado e teremos que dormir um dia no quarto coletivo.
Ainda no aeroporto há grande movimento e todos parecem estrangeiros. Esperamos um ônibus para nos levar até São Paulo, (São Paulo de fato). No ônibus a intimidade com a cidade começa, não que eu me sinta parte dela, mas as pessoas são iguais em qualquer parte do mundo. Percebi isso quando olhei um grupo de homens falando um idioma diferente, um que não participava da conversa, tinha um semblante triste. Pequenas tragédias cotidianas em uma cidade grande.
Fiz a mini viagem em pé. Não queria e nem poderia perder um segundo. Aos poucos os outdoors apareciam, eu conhecia grande parte. Em breve o desconhecido se mostraria, eu andaria de metrô.
Sinto-me um pouco constrangida ao falar da surpresa de andar de metrô, por que isso é banal para algumas pesssoas. Eu me lembro de uma palestra que vi em que uma senhora explicava a importância do professor. A senhora disse na palestra como tinha sido importante ouvir o relato de sua professora sobre andar de metrô, por que ela se lembrara deste relato quando andou de metrô pela primeira vez. Eu não lembrava relato algum. Não sabia das inúmeras estações, da velocidade e dos perigos.
Munidos com malas nós entramos na primeira estação e pegamos o primeiro trem em Tatuapé, sentamos num dos poucos lugares vagos que havia no metrô. Não seria uma pena se no primeiro passeio de metrô você estivesse com o celular na mão e fosse assaltada? Quando um moço entrou gritando no metrô pedindo desculpas por interromper a viagem eu imaginei um assalto. Imaginei ele levando o telefone e o dinheiro. Como voltaria para casa? Como diria para minha mãe do acontecido sem contato algum e sem conhecer ninguém numa cidade desconhecida? Por sorte, não era um assalto, era apenas um cara vendendo coisas no metrô. Um pequeno crime. Me desarmei e fiquei tranquila.
Chegando na próxima estação, senti o cheiro de pipoca que agora só me lembra São Paulo. A primeira andança de metrô foi apenas para deixar as malas no hostel para a próxima andança. Desta vez até o estádio do Palmeiras para comprar ingressos do primeiro amistoso internacional no local. Depois um passeio até a Barra Funda para comprar ingressos para o show do Milton Nascimento. Não deu tempo de descansar, aliás nem deu tempo de ficar exausto. São Paulo chamava.
Antes de dormir vem uma sensação estranha, que sempre tenho quando viajo para muito longe. Tudo ficou para trás, sei que essa frase não diz muito e nem precisa. È uma questão muito subjetiva. Bom mesmo é saber que sempre existe um novo lugar para ser visto, e quanto mais se viaja mais dá vontade de viajar.

*’Chegamos’, ‘Nós’, referem-se a mim e ao Bruno, assim como todas as palavras na primeira pessoa do plural. Obrigada Bruno, sem você essa viagem não seria possível. Se eu fosse de outro jeito não seria tão especial. Amo você J


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Há momentos em que é melhor desligar o coração
As batidas que antes causavam uma gostosa arritmia tornam-se desarmônicas com o contexto real.
À quem não sabe lidar com a desilusão é recomendado ver o lado bom do desencanto.
Por os pingos nos 'is', organizar as ferramentas, limpar as engrenagens.
É ressaca, dor de cabeça, mas também lucidez.
A realidade sempre espera. A realidade está lá mesmo quando ignorada e ela sempre chega.


Liga o modo racional

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Os três 'S'

Satis, Saudades e Su

Com pouco dinheiro contávamos moedas.
R$ 0,50 no pastel;
R$ 1,00 na esfiha.
Nos encontrávamos na praça, falávamos sobre um autor ou outro, então íamos até o satis:
R$ 5,50 no litrão de Brahma.
Sabíamos o valor de tudo. O valor das coisas que podíamos comprar e o valor das coisas que não comprávamos, como a futilidade de outras pessoas que nós debochávamos.
A cidade é de quem vê as luzes a noite.
Não sabíamos o valor da nossa amizade. O copo esvaziava, o dinheiro acabava e nós estávamos lá esperando o bar fechar. Não tínhamos nada. Nos pesávamos e sempre queríamos ser mais gordas, sempre querendo algo além dos becos escuros, mas esses eu suponho que eram interiores... os lugares escuros que encondemos dentro de nós, os buracos escuros dos nossos olhos. Perseguíamos as faíscas, mas não nos conformávamos com migalhas.
Um vazio sincero que a gente tentava preencher com um universo de letras, músicas, imagens e exercícios com tecidos.
Não sabemos o valor das nossas amizades, escrever é uma forma de tentar contar, como fazíamos com as moedas

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

E se

É assustador pensar nas probabilidades das coisas e na possibilidade delas acontecerem. É insuportável inserir números cara calcular todos os detalhes do cotidiano. Olhar os pesadelos com uma lente de aumento, olhar os sonhos com uma lente de aumento e desfigurar o que nem são fatos.

Colocar “e se” antes de todas as afirmativas desejáveis e indesejáveis imagináveis é uma tentativa esperançosa demais, e demasiadamente frustrante. É ter expectativas que podem não acontecer, antecipar sofrimentos que podem nem existir. Talvez o raciocínio se perca para evitar o tédio e entender que as coisas são como são.

Eu queria ter algumas certezas, eu gosto de âncoras e gostaria de saber de algumas da minha vida. Crio esquemas mentais tentando me convencer que algumas coisas sempre acontecem e há uma esquina que sempre estará lá.


Uma mulher me ofereceu um mapa astral, e pela primeira vez eu recusei. Virei uma das tantas esquinas que cruzo escolhendo um caminho diferente. Fiquei curiosa pela lógica do caos.