"Vivo um paradoxo terrível desde tenra
idade. Gosto de contar e quantificar as coisas, e atribuir espaço a tudo, até
mesmo aos sentimentos. Imagino um gráfico de pizza para ter uma dimensão do que
cada coisa ocupa, mas por sorte sou péssima em contas. Isto, no meu caso me dá
um pouco mais de leveza.
Os sentimentos afetuosos não se
permitem serem ponderados. Não há planejamento, não aceitam ser contados e
sempre querem ser exagerados. É como segurar o riso.
Eu tenho poucas certezas, mas eu
gosto de belezas, quando me vem um sentimento sublime eu fico extasiada. Os
fatos tornaram-se sinuosos demais e eu estou fixada.
Eu estou hipnotizada numa sequência
de momentos, quero que tudo se repita novamente.
Eu tenho poucas certezas, uma delas é
que eu quero que isso dure.
Contemplo fotos de coisas que ainda
não aconteceram, as que eu tenho não me bastam, e eu quero voltar até São
Paulo."
Um dos questionamentos que eu tenho
feito desde criança, é sobre o melhor lugar para se morar: Uma cidade grande ou
uma cidade pequena? Tal indagação tem sido mais persistente na idade adulta. Em
Campo Grande enquanto o avião subia eu percebi que toda cidade era pequena
vista de cima. Uma cidade é um labirinto, mas mesmo olhando de cima, não dá
para achar saída, sempre leva a outros labirintos (cidades).
Chegamos em São Paulo, mas ainda não era
a São Paulo que tanto procurávamos de fato. Chegamos à Guarulhos. No aeroporto
precisávamos fazer uma importante ligação ao hostel, achamos orelhão, mas não tínhamos
um cartão (quem tem?). Fomos até uma loja para comprar e voltamos para fazer a
ligação. Descobrimos que nosso quarto está ocupado e teremos que dormir um dia
no quarto coletivo.
Ainda no aeroporto há grande
movimento e todos parecem estrangeiros. Esperamos um ônibus para nos levar até
São Paulo, (São Paulo de fato). No ônibus a intimidade com a cidade começa, não
que eu me sinta parte dela, mas as pessoas são iguais em qualquer parte do
mundo. Percebi isso quando olhei um grupo de homens falando um idioma
diferente, um que não participava da conversa, tinha um semblante triste.
Pequenas tragédias cotidianas em uma cidade grande.
Fiz a mini viagem em pé. Não queria e
nem poderia perder um segundo. Aos poucos os outdoors apareciam, eu conhecia
grande parte. Em breve o desconhecido se mostraria, eu andaria de metrô.
Sinto-me um pouco constrangida ao
falar da surpresa de andar de metrô, por que isso é banal para algumas pesssoas.
Eu me lembro de uma palestra que vi em que uma senhora explicava a importância
do professor. A senhora disse na palestra como tinha sido importante ouvir o
relato de sua professora sobre andar de metrô, por que ela se lembrara deste
relato quando andou de metrô pela primeira vez. Eu não lembrava relato algum.
Não sabia das inúmeras estações, da velocidade e dos perigos.
Munidos com malas nós entramos na
primeira estação e pegamos o primeiro trem em Tatuapé, sentamos num dos poucos
lugares vagos que havia no metrô. Não seria uma pena se no primeiro passeio de
metrô você estivesse com o celular na mão e fosse assaltada? Quando um moço
entrou gritando no metrô pedindo desculpas por interromper a viagem eu imaginei um assalto.
Imaginei ele levando o telefone e o dinheiro. Como voltaria para casa? Como
diria para minha mãe do acontecido sem contato algum e sem conhecer ninguém
numa cidade desconhecida? Por sorte, não era um assalto, era apenas um cara
vendendo coisas no metrô. Um pequeno crime. Me desarmei e fiquei tranquila.
Chegando na próxima estação, senti o
cheiro de pipoca que agora só me lembra São Paulo. A primeira andança de metrô
foi apenas para deixar as malas no hostel para a próxima andança. Desta vez até
o estádio do Palmeiras para comprar ingressos do primeiro amistoso
internacional no local. Depois um passeio até a Barra Funda para comprar
ingressos para o show do Milton Nascimento. Não deu tempo de descansar, aliás
nem deu tempo de ficar exausto. São Paulo chamava.
Antes de dormir vem uma sensação
estranha, que sempre tenho quando viajo para muito longe. Tudo ficou para trás,
sei que essa frase não diz muito e nem precisa. È uma questão muito subjetiva.
Bom mesmo é saber que sempre existe um novo lugar para ser visto, e quanto mais
se viaja mais dá vontade de viajar.
*’Chegamos’, ‘Nós’, referem-se a mim
e ao Bruno, assim como todas as palavras na primeira pessoa do plural. Obrigada
Bruno, sem você essa viagem não seria possível. Se eu fosse de outro jeito não seria tão especial. Amo você J